Como Estudar um Texto Bíblico
Como
Estudar um Texto Bíblico
Deus usou palavras
para comunicar sua vontade aos homens. Ele deu a algumas pessoas a tarefa
especial de registrar suas palavras, que nós temos hoje no conjunto de livros
que conhecemos como a Bíblia ou as Escrituras. Vivemos numa época privilegiada
na qual estes textos transmitidos de Deus aos homens são facilmente acessíveis
em qualquer idioma escrito. Quase todos nós temos oportunidades de adquirir uma
Bíblia com pouco ou nenhum custo. Uma vez que adquirimos uma Bíblia, o que
faremos com ela?
A coisa mais óbvia
é ler o conteúdo, e a leitura bíblica deve fazer parte do nosso dia a dia.
Mas além da leitura, é importante estudar a Bíblia, procurando entendimento
dos livros, analisando a estrutura dos textos, procurando compreender as
mensagens comunicadas ao leitor. Neste artigo, vamos focalizar algumas dicas práticas
para ajudar no estudo de textos bíblicos. Vamos usar a primeira epístola de
Pedro como exemplo, mas as mesmas dicas servem para o estudo de outros livros ou
textos menores (capítulos, parágrafos, etc.).
1. Ler
o texto várias vezes. Antes de começar a analisar detalhadamente, leia
o texto várias vezes. Comece com a Bíblia que você usa no dia a dia. Se tiver
acesso a outras versões das Escrituras, leia o mesmo texto nestas outras versões.
Pela leitura repetida, você vai se familiarizar com o texto e vai desenvolver
uma noção geral dos pontos principais desenvolvidos. Quando se usa várias
versões, traduções um pouco diferentes podem esclarecer o sentido de algumas
palavras ou expressões difíceis.
2.
Identificar assuntos e palavras chaves. Em cada leitura, você perceberá
com mais facilidade as palavras repetidas e os assuntos frisados pelo autor. Em
1 Pedro, perceberá a ênfase na relação de pessoas santificadas com o Senhor,
o contraste entre coisas temporárias e coisas eternas, encorajamento para
pessoas que sofrem injustiças por causa da sua fé, etc. Ajuda anotar temas e
palavras importantes, talvez em um caderno, para facilitar a compreensão das
mensagens principais do texto.
3.
Analisar a organização do texto. Agora, entramos na fase de estudar
realmente o texto. As etapas anteriores serviam como preparos, mas ainda não
entramos no estudo mais detalhado do conteúdo. Na análise da organização, é
fundamental prestar atenção na gramática, especialmente na pontuação do
texto. Normalmente nós falamos e escrevemos em frases relativamente pequenas,
talvez com uma média de menos de 30 palavras cada. Mas muitos textos bíblicos
têm frases bem maiores, e não vamos entendê-los se não observar estas frases
e sua estrutura. Na maioria dos casos, podemos ver a separação das frases
pelos pontos finais (.), pontos de interrogação (?) ou de exclamação (!). A
pontuação correta faz parte do trabalho dos tradutores, e geralmente eles tem
feito bem nisso. Por esta razão, pode ter variações na pontuação de uma
versão para outra, que podem nos dar motivos para pesquisar mais e entender
estas diferenças.
É importante notar
que as divisões em capítulos e versículos servem principalmente para
facilitar a localização dos trechos, e não para mostrar bem a estrutura.
Estas convenções são o trabalho de homens para ajudar, não são divisões
inspiradas por Deus! Também deve observar que quase todos os subtítulos em
negrito foram acrescentados pelos redatores das versões, e não fazem parte do
texto original. Podem ajudar a entender a estrutura, mas também podem refletir
as tendências teológicas dos redatores.
Olhando para o
conteúdo, e não para as divisões dos versículos, poderia analisar a
estrutura básica de 1 Pedro capítulo 1 desta forma:
● Saudação
(1:1-2)
○ Pedro escreveu esta epístola
○ Escreveu para servos de Deus espalhados em regiões que ele identifica
○ Pedro escreveu esta epístola
○ Escreveu para servos de Deus espalhados em regiões que ele identifica
● A
esperança em Cristo (1:3-12)
○ Em Jesus, Deus mostrou a misericórdia para nos dar esperança (1:3-5)
○ Pela fé incorruptível, podemos suportar as aflições temporárias (1:6-9)
○ Profetas e anjos queriam compreender as coisas que Deus revelou para nós (1:10-12)
○ Em Jesus, Deus mostrou a misericórdia para nos dar esperança (1:3-5)
○ Pela fé incorruptível, podemos suportar as aflições temporárias (1:6-9)
○ Profetas e anjos queriam compreender as coisas que Deus revelou para nós (1:10-12)
● O
procedimento de peregrinos santificados (1:13-21)
○ Nosso entendimento do plano de Deus é a base da nossa esperança (1:13)
○ Os filhos de Deus devem imitar sua santidade (1:14-16)
○ Esta vida se baseia no sangue de Cristo, e não nas coisas passageiras deste mundo (1:17-21)
○ Nosso entendimento do plano de Deus é a base da nossa esperança (1:13)
○ Os filhos de Deus devem imitar sua santidade (1:14-16)
○ Esta vida se baseia no sangue de Cristo, e não nas coisas passageiras deste mundo (1:17-21)
● A
palavra permanente e eterna deve nos levar a amar de verdade (1:22-25)
4. Compreender as palavras usadas. Depois de enxergar a estrutura básica do trecho, é preciso compreender este texto. Obviamente, esta compreensão depende do vocabulário usado. Muitas das melhores traduções bíblicas empregam palavras que bem refletem o sentido das palavras originais que traduzem, mas algumas destas palavras não fazem parte do vocabulário cotidiano de muitos de nós. Se você não costuma ouvir e entender palavras como galardão, propiciação e imarcescível, precisará de um dicionário no seu estudo das Escrituras.
Para isso, há várias
opções. Na maioria dos casos, um dicionário comum resolverá as dúvidas. Mas
precisa lembrar que estes dicionários apresentam os sentidos das palavras no
contexto atual, e não necessariamente seu significado no contexto bíblico. Por
exemplo, as primeiras duas definições da palavra igreja no dicionário Aurélio
Século XXI são “Templo cristão” e “Autoridade eclesiástico”, mas
estes sentidos modernos da palavra não representam o seu significado nas
Escrituras. No mesmo dicionário, os principais sentidos dados à palavra batismo
vem das tradições católicas e de usos derivados da palavra, e não do sentido
da palavra grega assim traduzida no Novo Testamento. Um dicionário comum ajuda
em muitos casos, mas nem sempre!
Para estudantes que
querem mais clareza, há dicionários bíblicos que procuram apresentar melhor
os sentidos das palavras bíblicas no seu contexto original. Algumas Bíblias
incluem pequenos dicionários deste tipo entre os auxílios para o leitor.
Alguns destes dicionários se baseiam nos idiomas originais usados para escrever
a Bíblia (o Novo Testamento foi escrito no grego, e quase todo o Antigo
Testamento, em hebraico). O Dicionário Vine é um bom exemplo deste tipo
de auxílio. Alguns dicionários bíblicos são escritos num estilo enciclopédico,
ou seja, apresentam artigos de explicação sobre os temas abordados, e não
somente definições técnicas das palavras em si.
Estudantes mais
avançados podem utilizar ainda outros recursos, como textos gregos e hebraicos
e léxicos (um tipo de dicionário das palavras dos idiomas originais). Mas o
uso correto destes auxílios exige algum entendimento das línguas originais,
entendimento que poucos têm. Estudo dos idiomas usados para escrever a Bíblia
pode esclarecer algumas coisas, mas não devemos imaginar que tal conhecimento
seja necessário para compreender a vontade de Deus. Com um pouco de esforço,
é possível encontrar e compreender traduções que transmitem bem a mensagem
das Escrituras.
5. Compreender
as frases completas. Quando entendemos todas as palavras numa frase, a
compreensão do texto se torna mais fácil. Para entender uma frase, precisamos
observar os elementos básicos da gramática (fazemos isso constantemente, mesmo
sem saber como identificar por nome a função de cada palavra). É importante
observar quem fala e para quem ou sobre o que. Devemos prestar atenção no
tempo dos verbos, pois é muito diferente dizer “ela veio” ou “ela virá”.
6. Entender
o conjunto de frases. Quando escrevemos, usamos palavras para fazer
frases e juntamos algumas frases para fazer parágrafos. Normalmente um parágrafo
explica um certo fato, tema ou argumento, juntando vários pedaços de informação.
É comum um parágrafo levar a outro, assim desenvolvendo um assunto maior e
mais complexo. Às vezes, estes parágrafos são bem organizados e fáceis de
seguir. Em outros casos, precisamos ler várias vezes para compreender bem o
ponto. Cada escritor tem seu estilo, e alguns são mais fáceis do que outros. Não
é diferente na Bíblia. Encontramos alguns trechos bem organizados, e outros
onde o autor se desvia de um ponto e insere outro assunto antes de voltar ao
ponto original. O Espírito Santo, ao revelar as Escrituras, escolheu autores
com características e estilos diferentes para comunicar a sua mensagem a
leitores com diversos atributos. São motivos como estes que nos motivam a
dedicar as horas necessárias para realmente estudar e buscar entendimento dos
textos bíblicos. E cada minuto de estudo cuidadoso será bem investido!
Considere, como
exemplo, 1 Pedro 2:11-17. Antes de chegar a este trecho, observamos a ênfase na
santidade dos servos de Deus e a posição deles como o povo especial de Deus.
Neste trecho, Pedro explica um tema já introduzido em 1:17 – o procedimento
do santo povo de Deus durante o tempo aqui nesta vida terrestre. Os cristãos são
cidadãos do céu, mas residentes deste mundo, e assim devem se ver como
peregrinos e forasteiros. Como deve ser o comportamento destes peregrinos?
Nestes versículos, ele responde a esta questão, enfatizando a pureza (2:11), o
bom exemplo diante dos outros (2:12), o respeito para com as autoridades
governamentais (2:13-14) e o tratamento de todos (2:15-17). Cada frase tem seu
lugar no parágrafo, e o parágrafo faz parte do contexto maior da epístola
toda.
7. Procurar
entender o texto no seu contexto maior. É fundamental entender palavras,
frases e parágrafos, mas o estudo não termina aqui. Quase todos os livros da Bíblia
tratam de diversos assuntos, e assim os parágrafos se enquadram como partes do
todo em cada livro. No exemplo citado acima, ele começou uma parte do livro em
1 Pedro 2:17 quando falou sobre o comportamento dos cristãos no mundo. Os parágrafos
subsequentes, porém, continuam com aspectos mais detalhados deste tema, falando
sobre o procedimento de servos, esposas, maridos, etc. A relação proposital
entre estes trechos se torna evidente pelo uso de palavras como porquanto
(2:21), porque (2:25), igualmente (3:1,7), finalmente (3:8), etc.
Ainda há mais um
passo importante na consideração do contexto. Além do próprio livro, há
outros livros da Bíblia que podem incluir informações relevantes. Quando
consideramos as Escrituras como um todo, percebemos a importância de
interpretar cada trecho de acordo com o resto da Bíblia. Pedro mesmo comentou
sobre este fato quando comparou seus ensinamentos com os de Paulo (2 Pedro
3:15-16). Um trecho complementa o outro e facilita nossa compreensão.
Conclusão
Não é a minha
intenção neste pequeno artigo apresentar um curso completo sobre análise de
textos bíblicos. Com certeza, outros poderiam acrescentar outras sugestões
valiosas. O propósito deste artigo é incentivar o estudo cuidadoso no qual
cada leitor busca entender o que Deus tem revelado. Vamos cultivar hábitos de
ler, estudar, meditar e aplicar as mensagens das Escrituras!
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